
Um novo estudo realizado por pesquisadores húngaros
mostrou que, ao contrário das afirmações proferidas pelas indústrias de
biotecnologia e órgãos reguladores, fragmentos de DNA grandes o
suficiente para carregarem genes inteiros podem não ser degradados no
trato digestivo e, através de mecanismo ainda desconhecido, entrar no
sistema circulatório humano.
As descobertas estão descritas no artigo científico intitulado “Genes
inteiros podem passar da alimentação para o sangue humano” (na tradução
livre do inglês), publicado na revista Plos One em julho de 2013.
Segundo explicam os autores, nosso sistema sanguíneo é considerado um
ambiente bem separado do mundo externo e do trato digestivo.
Acredita-se que macromoléculas ingeridas através da alimentação não
podem passar diretamente para o sistema circulatório e que, durante a
digestão, proteínas e DNA são degradados em componentes menores e só
então absorvidos por um complexo processo e distribuídos para várias
partes do corpo através da corrente sanguínea.
Alguns estudos anteriores publicados na literatura científica já
haviam demonstrado que uma pequena quantidade de fragmentos de DNA
provenientes da alimentação podem resistir ao trato digestivo e transpor
a barreira intestinal, mas até agora nenhuma pesquisa havia investigado
se grandes segmentos de DNA podem passar da alimentação para o sistema
circulatório.
O novo estudo, entretanto, baseado na análise de mais de 1.000
amostras humanas oriundas de pesquisas independentes, aponta evidências
de que fragmentos de DNA ingeridos, contendo genes inteiros, podem
escapar da degradação e entrar na corrente sanguínea. Mais que isso, os
dados mostraram que este não é um evento incomum. Nas amostras
analisadas, os pesquisadores puderam, inclusive, identificar de quais
espécies de plantas eram oriundos os genes encontrados, como soja,
canola, laranja ou nabo.
Um dado interessante foi que as maiores concentrações de DNA de
plantas em amostras de sangue foram encontradas em pessoas que
apresentavam doenças inflamatórias, como Doença Inflamatória Intestinal
(DII) e síndrome de Kawasaki, um tipo de vasculite caracterizada pela
inflamação de vasos sanguíneos em todo o corpo e que afeta
principalmente crianças. Segundo os autores, esse fato indica que não se
pode excluir a hipótese de que a alta concentração de DNA de alimentos
no sangue esteja ligada à inflamação.
Os autores enfatizam, em suas conclusões, que as novas descobertas
podem levar a uma revisão do conhecimento acerca dos mecanismos de
degradação e absorção de ácidos nucleicos pelo corpo humano.
Estas descobertas, na verdade, colocam por terra um dos pilares da
argumentação dos cientistas que alegam que os alimentos transgênicos são
seguros para o consumo humano: o de que as proteínas modificadas são
completamente degradadas no trato digestivo. À luz das novas evidências,
abre-se um enorme leque de questões sem resposta a respeito dos efeitos
adversos que transgenes podem provocar no organismo de quem os ingere.
Um outro estudo, este realizado por pesquisadores da Universidade de
Brasília (UNB) e publicado em março de 2013 pela revisa científica
Journal of Hematology & Thromboembolic Diseases, avaliou a
hematoxicidade e a genotoxicidade de toxinas Bt (aquelas presentes nas
plantas transgênicas inseticidas) em ratos de laboratório. Na pesquisa,
quatro proteínas Bt geneticamente modificados (Cry1Aa, Cry1Ab, Cry1Ac ou
Cry2A) foram administradas nas cobaias através de uma sonda,
isoladamente e em dose única, em diferentes concentrações, 24 horas, 72
horas ou 7 dias antes da eutanásia. Combinações binárias das proteínas
também foram administradas em uma única concentração (270 mg/kg), em
dose única 24 h antes da eutanásia.
Os resultados da pesquisa mostraram que as proteínas Bt isoladas
provocaram hematoxicidade seletiva para 3 dos tempos de exposição. Foi
também verificada a redução significativa na proliferação de células de
medula óssea, indicando a manifestação de efeitos citotóxicos. Esses
efeitos persistiram em todos os tempos de exposição às proteínas Bt,
tornando-se mais evidentes aos 7 dias. Resultados similares foram
observados nas combinações binárias em 24 horas de exposição. Não foram
encontradas evidências de efeitos genotóxicos nas concentrações e
períodos de exposição às proteínas Bt avaliados.
Observou-se ainda que a proteína Cry1Ab induziu o desenvolvimento de
anemia microcítica hipocrômica nos ratos, mesmo na menor dose testada.
Os autores ressaltam que, conforme descrito em pesquisa realizada no
Canadá e publicada em 2011, esta toxina já havia sido detectada no
sangue de mulheres não grávidas, mulheres grávidas e eu seus fetos no
Canadá – supostamente as mulheres foram expostas à proteína transgênica
através da alimentação.
Conforme apontado nas conclusões da nova pesquisa, de uma forma geral
os resultados mostraram que as quatro proteínas transgênicas Bt
testadas podem representar riscos hematológicos para vertebrados,
aumentando seus efeitos tóxicos na exposição de longo prazo.
Considerando o aumento da exposição de seres humanos e animais a essas
toxinas, especialmente através da alimentação, os pesquisadores
ressaltam a necessidade da realização de estudos mais
aprofundados para esclarecer os mecanismos envolvidos na hematoxicidade
verificada nos ratos, bem como para estabelecer os riscos toxicológicos
que as proteínas transgênicas Bt representam para organismos não alvo,
especialmente os mamíferos – o que deveria ser feito antes de se
concluir pela segurança dessas proteínas para o consumo humano, ao
contrário do que fazem os doutores da CTNBio, que consideram as plantas
Bt seguras “a priori”, dispensando a realização de estudos de longo
prazo com cobaias.
No Brasil, estão aprovadas para cultivo comercial e consumo um tipo
de soja, 7 tipos de milho e 7 tipos de algodão transgênicos contendo
pelo menos uma das 4 proteínas Bt analisadas pelos pesquisadores da UNB,
além de vários tipos de milho e algodão contendo outras cinco proteínas
Bt do tipo Cry.
Referência dos estudos citados:
Spisák S, Solymosi N, Ittzés P, Bodor A, Kondor D, et al. (2013)
Complete Genes May Pass from Food to Human Blood. PLoS ONE 8(7): e69805.
doi:10.1371/journal.pone.0069805
Mezzomo BP, Miranda-Vilela AL, Freire IdS, Barbosa LCP, Portilho FA,
et al. (2013) Hematotoxicity of Bacillus thuringiensis as Spore-crystal
Strains Cry1Aa, Cry1Ab, Cry1Ac or Cry2Aa in Swiss Albino Mice. J Hematol
Thromb Dis 1:104. doi: 10.4172/jhtd.1000104
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