Sigo alguns blogs e fico feliz em ver que tem tanta gente procurando esclarecer outras pessoas sobre tantas coisas importantes.
Uma destas coisas é sobre o Ego. Sempre me deparo com uma voz dentro de minha cabeça, ou melhor, diversas vozes.
Pra você ter uma idéia do que estou escrevendo, é só começar a observar a voz dentro de sua cabeça. Com a prática, você irá perceber que você, assim como 99,999% da população mundial é um marionete, dominado por está voz, isto é uma manifestação do ego. Sem perceber acabamos sendo dominados por está voz, e a mídia...sabe muito bem disto e usa suas ferramentas que são muitas para nos dominarem.
Uma experiência que fiz: Um dia destes, resolvi fazer jejum de café (tomo café) e quase consegui ficar sem tomar café, mas infelizmente o voz na minha cabeça venceu. Quando percebi estava do lado da garrafa, colocando café no copo. Percebi depois, mas já tinha me comportado como uma marionete!
Atualmente, tenho praticado muito a auto-observação e com isto dá ra pegar a mente agindo, é muito legal! Cada coisa que fazemos e nem percebemos!!
Somos criaturas bio-químicas e queiramos ou não estamos confinados, pelo
menos enquanto seres viventes deste mundo, a interagirmos com toda
essa descarga química que rege nossas vidas diariamente. Somos uma
grande farmácia de manipulação, uma indústria química que consegue
produzir um elemento para cada coisa.
Tem química para a alegria, tristeza, paixão, stress, medo, coragem,
raiva, excitação, bem-estar… Toda e qualquer emoção que tivermos, por
mais que tenham tido seu estopim na mente e nas ações e interações do
cotidiano, vai culminar no gerenciamento de alguma química pelo cérebro,
que irá induzir e sentir tal processo, em sua totalidade, como uma
emoção.
E como toda química, obviamente, algumas viciam. À princípio, não há
problema nisso. O problema é quando as ações e estímulos necessários
para que se inicie todo esse processo, acontecem de forma equivocada,
atingindo negativamente os outros e a nível inconsciente, a si mesmo.
E é aí que entra o papel do ego…
Nunca vi termo tão mal compreendido quanto este. O ego tornou-se a
majestade e o bobo da corte – simultaneamente. Muitos de nós, vivemos
exclusivamente em função dele, mas não temos a menor noção de que a
forma que tratamos nosso ego, tem sido manipulada por forças poderosas e
covardes, que se aproveitam da falta de auto-conhecimento para
deturpar diariamente como lidamos com nós mesmos, sem nos darmos conta
do processo.
Uma boa definição de “ego”:
“O ego é uma instância da personalidade definida pela psicologia como
o nosso eu mais perceptível. Esse conceito foi revisto e ampliado pelo
médico austríaco Sigmund Freud (1856-1939), autor da teoria
psicanalítica. Para ele, o ego é uma instância psíquica relacionada ao
princípio de realidade. O psiquismo humano seria composto ainda por duas
outras instâncias: o id, que se orientaria pelo princípio do prazer, e
o superego, que exerceria a função de juiz ou censor do ego. O ego,
que é a parte mais perceptível de cada um de nós, age condicionado por
nossos desejos, conscientes ou inconscientes, e ao mesmo tempo é
moldado por nossa autocensura e pelos nossos juízos de valor,
representados pelo superego. As pessoas com ego mais frágil são,
geralmente, mais impulsivas, uma vez que cedem aos impulsos do id. Quem
tem o ego mais rígido, por sua vez, está mais submetido às leis do
superego e costuma ser lógico e controlador.”
Um
bom exemplo das armadilhas do ego, é a questão do “status” ou posição
social. Desde cedo, somos massificados com a seguinte informação: “você
é o que tem”. Alguém com um anél de ouro, um carro mais moderno, uma
roupa de marca, consegue se sentir bem exibindo-se em público e
atraindo atenções para tal. Se sente uma pessoa superior apenas por
possuir bens materiais que, “dizem” ser melhores do que muitos outros
em uso pela grande maioria. Nomes e marcas fazem este trabalho, que
evidentemente é ilusório para os que sabem como isso tudo é criado, mas
altamente corruptível e atraente para a grande maioria. É a manutenção
do ego utilizando a ilusão do status, criada pelo capitalismo através
da mídia.
E daí, entra em ação mais uma vez o turbilhão químico do bem-estar, a
partir de um estímulo nocivo. E isso acontece em diversas outras
situações do cotidiano, que visam atrair a atenção para si:
- Agressão a outras pessoas em posições inferiores ou não
passíveis de revide, como vendedores de lojas, atendentes de serviços
via telefone e outros trabalhadores que lidam com o público. A agressão
pode partir de um cliente/consumidor ou mesmo do chefe, que agride
psicologicamente, ameaçando sempre mandar o trabalhador embora,
incutindo medo, insegurança e humilhando o indivíduo;
- A agressão pode se dar em outros níveis da sociedade, como com
idosos, crianças, mulheres, etc. O mundo acaba virando um palco para
desfilarmos nossa “atitude”, aliviar nossas frustrações, mas isso serve
apenas para que nós mesmos nos afastemos da noção de inferiores,
patéticos. Agressão verbal ou até física para inflar o ego e nos
sentirmos poderosos, mesmo que às custas da humilhação alheia;
- Super-estimar posses materiais, ou o popular “contar vantagem”.
“- Meu carro é melhor, meu relógio é melhor, minha roupa é de marca,
meu sapato foi caríssimo” e por aí vai… “O meu é sempre melhor do que o
seu”, mesmo que na prática não me transforme em uma pessoa melhor.
Muito pelo contrário, acabamos escravos do que possuímos e cada vez
mais dependentes de bens materiais para nos afirmarmos como indivíduos
na sociedade;
- Da mesma maneira que supervalorizar bens materiais infla o ego,
diminuir o que outros possuem também dá conta do recado. Falar mal da
vida alheia, caluniar as pessoas e fazer pouco caso do que possuem,
como conseguiram seus bens, como são fisicamente ou como vivem, serve
para intensificar ainda mais o bem-estar ilusório, ou para mascarar
frustrações. De qualquer forma, serve de alimento para o ego. Um
alimento deveras venenoso e viciante, que vai exigir cada vez mais
comportamentos bizarros. Como uma droga, sempre se quer mais sem se
importar com limites;
- Outra ação muito comum na sociedade é a filiação a grupos para
participar de manifestações de cunho popular que também geram alimento
ao ego, mas que descamba para a alienação e por vezes agressão. O caso
mais comum talvez seja o de torcidas organizadas de futebol, mas a
religião também pode ser um motivador poderoso. O foco da pessoa que se
filia a um todo desse tipo se perde, assim como sua individualidade.
Ele não vai mais ao estádio para torcer, mas sim para agredir a torcida
adversária, “marcar território” e se sentir forte como parte de um
coletivo que lhe providencia escudo e proteção para agir de maneira que
não agiria estando sozinho. No final, ele não sabe se torce pro time,
pro jogador, pro clube ou pro dirigente, pois a idéia é competir e
sobrassair como parte de um grupo, seja ele qualquer.
E é assim… Um círculo vicioso de comportamentos que visam o
bem-estar pessoal acima de tudo, baseando-se no egoísmo como principal
propulsor, muitas vezes sem a menor auto-crítica e piedade com o
próximo. O “Eu” acima de tudo e de todos, que acaba perpetuando e
corrompendo toda a sociedade pela lei da imitação, pela facilidade com
que se pode fazer tais coisas e acima de tudo pela legitimidade com que
tratamos esses comportamentos. Afinal, “- o mundo é assim”, dizem..
como também “- não vou conseguir mudar o mundo sozinho”. Esses
pensamentos são justamente o combustível principal de muitos dos erros e
problemas da atualidade, como a desigualdade social e o preconceito,
mas que pode começar a ser mudado a qualquer momento. Basta que
consigamos ter o desejo honesto de se melhorar, evoluir a consciência,
pois com isso, invariavelmente melhoramos o mundo. Talvez ainda haja um
pouco de tempo para nós, mas com certeza haverá bastante para as
futuras gerações. Mesmo que não estejamos mais aqui, pense que muitas
pessoas boas, sensatas e inteligentes, tiveram grandes feitos no
passado e que hoje, mesmo elas já não estando mais por aqui, nós é que
nos beneficiamos com isso.

EGO, O FALSO CENTRO
O primeiro ponto a ser compreendido é o ego.
Uma criança nasce sem qualquer conhecimento, sem qualquer consciência de
seu próprio eu. E quando uma criança nasce, a primeira coisa da qual
ela se torna consciente não é ela mesma; a primeira coisa da qual ela se
torna consciente é o outro. Isso é natural, porque os olhos se abrem
para fora, as mãos tocam os outros, os ouvidos escutam os outros, a
língua saboreia a comida e o nariz cheira o exterior. Todos esses
sentidos abrem-se para fora.
O nascimento é isso.
Nascimento significa vir a este mundo, o mundo exterior. Assim,
quando uma criança nasce, ela nasce neste mundo. Ela abre seus olhos, vê
aos outros. O ‘outro’ significa o tu. Ela primeiro se torna consciente
da mãe. Então, pouco a pouco, ela se torna consciente de seu próprio
corpo. Este também é o outro, também pertence ao mundo. Ela está com
fome e passa a sentir o corpo; quando sua necessidade é satisfeita, ela
esquece o corpo.
É desta maneira que a criança cresce.
Primeiro ela se torna consciente do você, do tu, do outro, e então,
pouco a pouco, contrastando com você, tu, ela se torna consciente de si
mesma. Essa consciência é uma consciência refletida. Ela não está
consciente de quem ela é. Ela está simplesmente consciente da mãe e do
que esta pensa a seu respeito. Se a mãe sorri, se ela aprecia a criança,
se diz: ‘Você é bonita’, se ela a abraça e a beija, a criança sente-se
bem a respeito de si mesma. Agora um ego está nascendo. Através da
apreciação, do amor, do cuidado, ela sente que é boa, ela sente que tem
valor, ela sente que tem importância. Um centro está nascendo. Mas esse
centro é um centro refletido. Ela não é o ser verdadeiro. A criança
não sabe quem ela é; ela simplesmente sabe o que os outros pensam a seu
respeito.
E esse é o ego: o reflexo, aquilo que os outros pensam. Se ninguém
pensa que ela tem alguma utilidade, se ninguém a aprecia, se ninguém lhe
sorri, então, também, um ego nasce – um ego doente, triste, rejeitado,
como uma ferida; sentindo-se inferior, sem valor. Isso também é o ego.
Isso também é um reflexo.
Primeiro a mãe – e mãe, no início, significa o mundo. Depois os
outros se juntarão à mãe, e o mundo irá crescendo. E quanto mais o mundo
cresce, mais complexo o ego se torna, porque muitas opiniões dos
outros são refletidas. O ego é um fenômeno acumulativo, um subproduto
do viver com os outros. Se uma criança vive totalmente sozinha, ela nunca
chegará a desenvolver um ego. Mas isso não vai ajudar. Ela permanecerá
como um animal. Isso não significa que ela virá a conhecer o seu
verdadeiro eu, não. O verdadeiro pode ser conhecido somente através do
falso, portanto, o ego é uma necessidade. Temos que passar por ele. Ela é
uma disciplina. O verdadeiro pode ser conhecido somente através da
ilusão. Você não pode conhecer a verdade diretamente. Primeiro você tem
que conhecer aquilo que não é verdadeiro. Primeiro você tem que
encontrar o falso. Através desse encontro, você se torna capaz de
conhecer a verdade. Se você conhece o falso como falso, a verdade
nascerá em você.
O ego é uma necessidade; é uma necessidade social, é um subproduto
social. A sociedade significa tudo o que está ao seu redor, não você,
mas tudo aquilo que o rodeia. Tudo, menos você, é a sociedade. E todos
refletem. Você irá para a escola e o professor refletirá quem você é.
Você fará amizade com outras crianças e elas refletirão quem você é.
Pouco a pouco, todos estão adicionando algo ao seu ego, e todos estão
tentando modificá-lo, de tal forma que você não se torne um problema
para a sociedade.
Eles não estão interessados em você. Eles estão interessados na sociedade.
A sociedade está interessada nela mesma, e é assim que deveria ser.
Ela não está interessada no fato de que você deveria se tornar um
conhecedor de si mesmo. Interessa-lhe que você se torne uma peça
eficiente no mecanismo da sociedade. Você deveria ajustar-se ao padrão.
Assim, estão tentando dar-lhe um ego que se ajuste à sociedade.
Ensinam-lhe a moralidade. Moralidade significa dar-lhe um ego que se
ajustará à sociedade. Se você for imoral, você será sempre um
desajustado em um lugar ou outro.
É por isso que colocamos os criminosos nas prisões – não que eles tenham
feito alguma coisa errada, não que ao colocá-los nas prisões iremos
melhorá-los, não. Eles simplesmente não se ajustam. Eles criam
problemas. Eles têm certos tipos de egos que a sociedade não aprova. Se a
sociedade aprova, tudo está bem.
Um homem mata alguém – ele é um assassino. E o mesmo homem, durante a
guerra, mata milhares – e torna-se um grande herói. A sociedade não
está preocupada com o homicídio, mas o homicídio deveria ser praticado
para a sociedade – então tudo está bem. A sociedade não se preocupa com
moralidade.
Moralidade significa simplesmente que você deve se ajustar à sociedade.
Se a sociedade estiver em guerra, a moralidade muda. Se a sociedade
estiver em paz, existe uma moralidade diferente. A moralidade é uma
política social. É diplomacia. E toda criança deve ser educada de tal
forma que ela se ajuste à sociedade; e isso é tudo, porque a sociedade
está interessada em membros eficientes. A sociedade não está interessada no fato de que você deveria chegar ao autoconhecimento. A
sociedade cria um ego porque o ego pode ser controlado e manipulado. O
eu nunca pode ser controlado e manipulado. Nunca se ouviu dizer que a
sociedade estivesse controlando o eu – não é possível. E a criança
necessita de um centro; a criança está absolutamente inconsciente de seu
próprio centro. A sociedade lhe dá um centro e a criança pouco a pouco
fica convencida de que este é o seu centro, o ego dado pela sociedade.
Uma criança volta para casa – se ela foi o primeiro aluno de sua
classe, a família inteira fica feliz. Você a abraça e a beija, e você
coloca a criança no colo e começa a dançar e diz: ‘Que linda criança!
Você é um motivo de orgulho para nós.’ Você está dando um ego a ela. Um
ego sutil. E se a criança chega em casa abatida, fracassada, um fiasco –
ela não pode passar, ou ela tirou o último lugar – então ninguém a
aprecia e a criança sente-se rejeitada. Ela tentará com mais afinco na
próxima vez, porque o centro se sente abalado. O ego está sempre
abalado, sempre à procura de alimento, de alguém que o aprecie. É por
isso que você está continuamente pedindo atenção.
Ouvi contar:
Mulla Nasrudin e sua esposa estavam saindo de uma festa, e Mulla disse:
‘Querida, alguma vez alguém já lhe disse que você é fascinante, linda, maravilhosa?’
Sua esposa sentiu-se muito, muito bem, ficou muito feliz. Ela disse: ‘Eu me pergunto por que ninguém jamais me disse isso.’
Nasrudin disse: ‘Mas então de onde você tirou essa idéia?’
Você obtém dos outros a idéia de quem você é. Não é uma experiência
direta. É dos outros que você obtém a idéia de quem você é. Eles modelam
o seu centro.
Esse
centro é falso, porque você contém o seu centro verdadeiro. Este não é
da conta de ninguém. Ninguém o modela, você vem com ele. Você nasce
com ele. Assim, você tem dois centros. Um centro com o qual você vem,
que lhe é dado pela própria existência. Este é o eu. E o outro centro,
que lhe é dado pela sociedade – o ego. Ele é algo falso – e é um grande
truque. Através do ego a sociedade está controlando você. Você tem que
se comportar de uma certa maneira, porque somente então a sociedade o
aprecia. Você tem que caminhar de uma certa maneira: você tem que rir
de uma certa maneira; você tem que seguir determinadas condutas, uma
moralidade, um código. Somente então a sociedade o apreciará, e se ela
não o fizer, o seu ego ficará abalado. E quando o ego fica abalado,
você já não sabe onde está, quem você é. Os outros lhe deram a idéia.
Essa idéia é o ego. Tente entendê-lo o mais profundamente possível,
porque ele tem que ser jogado fora. E a menos que você o jogue fora,
nunca será capaz de alcançar o eu. Por estar viciado no centro, você não
pode se mover, e você não pode olhar para o eu. E lembre-se, vai haver
um período intermediário, um intervalo, quando o ego estará
despedaçado, quando você não saberá quem você é, quando você não saberá
para onde está indo,quando todos os limites se dissolverão. Você
estará simplesmente confuso, um caos.
Devido a esse caos, você tem medo de perder o ego. Mas tem que ser
assim. Temos que passar através do caos antes de atingir o centro
verdadeiro. E se você for ousado, o período será curto. Se você for
medroso e novamente cair no ego, e novamente começar a ajeitá-lo, então,
o período pode ser muito, muito longo; muitas vidas podem ser
desperdiçadas.
Ouvi dizer:
Uma criancinha estava visitando seus avós. Ela tinha apenas quatro anos
de idade. De noite, quando a avó a estava fazendo dormir, ela de
repente começou a chorar e a gritar:
‘Eu quero ir para casa. Estou com medo do escuro.’
Mas a avó disse:
‘Eu sei muito bem que em sua casa você também dorme no escuro; eu nunca vi a luz acesa: Então por que você está com medo aqui?’
O menino disse:
‘Sim, é verdade – mas aquela é a minha escuridão. Esta escuridão é completamente desconhecida.’
Até mesmo com a escuridão você sente: ‘Esta é minha.’
Do lado de fora – uma escuridão desconhecida. Com o ego você sente:
‘Esta é a minha escuridão.’ Pode ser problemática, pode criar muitos
tormentos, mas ainda assim, é minha. Alguma coisa em que se segurar,
alguma coisa em que se agarrar, alguma coisa sob os pés; você não está
em um vácuo, não está em um vazio. Você pode ser infeliz, mas pelo menos
você é.
Até mesmo o ser infeliz lhe dá uma sensação de ‘eu sou’. Afastando-se
disso, o medo toma conta; você começa a sentir medo da escuridão
desconhecida e do caos – porque a sociedade conseguiu clarear uma
pequena parte do seu ser… É o mesmo que penetrar em uma floresta. Você
faz uma pequena clareira, você limpa um pedaço de terra, você faz um
cercado, você faz uma pequena cabana; você faz um pequeno jardim, um
gramado, e você sente-se bem. Além de sua cerca – a floresta, a selva.
Aqui tudo está bem; você planejou tudo. Foi assim que aconteceu. A
sociedade abriu uma pequena clareira em sua consciência. Ela limpou
apenas uma pequena parte completamente e cercou-a. Tudo está bem ali.
Todas as suas universidades estão fazendo isso. Toda a cultura e todo o
condicionamento visam apenas limpar uma parte, para que você possa se
sentir em casa ali.
E então você passa a sentir medo. Além da cerca existe perigo. Além
da cerca você é, tal como dentro da cerca você é – e sua mente
consciente é apenas uma parte, um décimo de todo o seu ser. Nove décimos
estão aguardando no escuro. E dentro desses nove décimos, em algum
lugar, o seu centro verdadeiro está oculto.
Precisamos ser ousados, corajosos. Precisamos dar um passo para o desconhecido.
Por um certo tempo, todos os limites ficarão perdidos.
Por um certo tempo, você vai sentir-se atordoado.
Por um certo tempo, você vai sentir-se muito amedrontado e abalado, como se tivesse havido um terremoto.
Mas se você for corajoso e não voltar para trás, se você não voltar a
cair no ego, mas for sempre em frente, existe um centro oculto dentro de
você, um centro que você tem carregado por muitas vidas.
Esta é a sua alma, o eu.
Uma vez que você se aproxime dele, tudo muda, tudo volta a se assentar
novamente. Mas agora esse assentamento não é feito pela sociedade.
Agora, tudo se torna um cosmos e não um caos; nasce uma nova ordem. Mas
esta não é a ordem da sociedade – é a própria ordem da existência. É o
que Buda chama de Dharma, Lao Tsé chama de Tao, Heráclito chama de
Logos. Não é feita pelo homem. É a própria ordem da existência.
Então, de repente tudo volta a ficar belo, e pela primeira vez,
realmente belo, porque as coisas feitas pelo homem não podem ser belas.
No máximo você pode esconder a feiúra delas, isso é tudo. Você pode
enfeitá-las, mas elas nunca podem ser belas. A diferença é a mesma que
existe entre uma flor verdadeira e uma flor de plástico ou de papel. O
ego é uma flor de plástico, morta. Não é uma flor, apenas parece com uma
flor. Até mesmo lingüisticamente, chamá-la de flor está errado, porque
uma flor é algo que floresce. E essa coisa de plástico é apenas uma
coisa e não um florescer. Ela está morta. Não há vida nela. Você tem um
centro que floresce dentro de você. Por isso os hindus o chamam de
lótus – é um florescer. Chamam-no de o lótus das mil pétalas. Mil
significa infinitas pétalas. O centro floresce continuamente, nunca
para, nunca morre. Mas você está satisfeito com um ego de plástico.
Existem algumas razões para que você esteja satisfeito. Com uma coisa
morta, existem muitas vantagens. Uma é que a coisa morta nunca morre.
Não pode – nunca esteve viva. Assim você pode ter flores de plástico, e
de certa forma elas são boas. Elas são permanentes; não são eternas,
mas são permanentes. A flor verdadeira, a flor que está lá fora no
jardim, é eterna, mas não é permanente. E o eterno tem uma maneira
própria de ser eterno. A maneira do eterno é nascer muitas e muitas
vezes… e morrer. Através da morte, o eterno se renova, rejuvenesce.
Para nós, parece que a flor morreu – ela nunca morre. Ela simplesmente
troca de corpo, assim está sempre fresca. Ela deixa o velho corpo e
entra em um novo corpo. Ela floresce em algum outro lugar, nunca deixa
de estar florescendo.
Mas
não podemos ver a continuidade porque a continuidade é invisível.
Vemos somente uma flor, outra flor; nunca vemos a continuidade.
Trata-se da mesma flor que floresceu ontem. Trata-se do mesmo sol, mas
em um traje diferente.
O ego tem uma certa qualidade – ele está morto. É de plástico. E é
muito fácil obtê-lo, porque os outros o dão a você. Você não o precisa
procurar; a busca não é necessária para ele. Por isso, a menos que você
se torne um buscador à procura do desconhecido, você ainda não terá se
tornado um indivíduo. Você é simplesmente uma parte da multidão. Você é
apenas uma turba. Quando você não tem um centro autêntico, como você
pode ser um indivíduo? O ego não é individual. O ego é um fenômeno
social – ele é a sociedade, não é você. Mas ele lhe dá um papel na
sociedade, uma posição na sociedade. E se você ficar satisfeito com ele,
você perderá toda a oportunidade de encontrar o eu.
E por isso você é tão infeliz.
Com uma vida de plástico, como você pode ser feliz? Com uma vida
falsa, como você pode ser extático e bem-aventurado? E esse ego cria
muitos tormentos, milhões deles. Você não pode ver, porque se trata da
sua escuridão. Você está em harmonia com ela. Você nunca reparou que
todos os tipos de tormentos acontecem através do ego? Ele não o pode
tornar abençoado; ele pode somente torná-lo infeliz.
O ego é o inferno.
Sempre que você estiver sofrendo, tente simplesmente observar e
analisar, e você descobrirá que, em algum lugar, o ego é a causa do
sofrimento. E o ego continua encontrando motivos para sofrer.
Uma vez eu estava hospedado na casa de Mulla Nasrudin. A esposa estava
dizendo coisas muito desagradáveis a respeito de Mulla Nasrudin, com
muita raiva, aspereza, agressividade, muito violenta, a ponto de
explodir. E Mulla Nasrudin estava apenas sentado em silêncio, ouvindo.
Então, de repente, ela se voltou para ele e disse: ‘Então, mais uma vez
você está discutindo comigo!’ Mulla disse: ‘Mas eu não disse uma única
palavra!’
A esposa replicou: ‘Sei disso – mas você está ouvindo muito
agressivamente.’ Você é um egoísta, como todos são. Alguns são muito
grosseiros, evidentes, e estes não são tão difíceis. Outros são muito
sutis, profundos, e estes são os verdadeiros problemas.
O ego entra em conflito com outros continuamente porque cada ego está
extremamente inseguro de si mesmo. Tem que estar – ele é uma coisa
falsa. Quando você nada tem nas mãos, mas acredita ter algo, então
haverá um problema. Se alguém disser: ‘Não há nada’, imediatamente
começa a briga porque você também sente que não há nada. O outro
o torna consciente desse fato. O ego é falso, ele não é nada.
E você também sabe isso.
Como você pode deixar de saber isso? É impossível! Um ser consciente –
como pode ele deixar de saber que o ego é simplesmente falso? E então
os outros dizem que não existe nada – e sempre que os outros dizem que
não existe nada, eles batem numa ferida, eles dizem uma verdade – e
nada fere tanto quanto a verdade. Você tem que se defender, porque se
você não se defende, se não se torna defensivo, onde estará você?
Você estará perdido. A identidade estará rompida.
Assim, você tem que se defender e lutar – este é o conflito. Um homem
que alcança o eu nunca se encontra em conflito algum. Outros podem vir e
entrar em choque com ele, mas ele nunca está em conflito com ninguém.
Aconteceu de um mestre Zen estar passando por uma rua. Um homem veio
correndo e o golpeou duramente. O mestre caiu. Logo se levantou e voltou
a caminhar na mesma direção na qual estava indo antes, sem nem ao
menos olhar para trás. Um discípulo estava com o mestre. Ele ficou
simplesmente chocado. Ele disse:
‘Quem é esse homem? O que significa isso? Se a gente vive desta maneira,
qualquer um pode vir e nos matar. E você nem ao menos olhou para
aquela pessoa, quem é ela, e por que ela fez isso?’
O mestre disse: ‘Isso é problema dela, não meu.’
Você pode entrar em choque com um iluminado, mas esse é seu problema,
não dele. E se você fica ferido nesse choque, isso também é problema
seu. Ele não o pode ferir. É como bater contra uma parede – você ficará
machucado, mas a parede não o machucou.
O ego sempre está procurando por algum problema. Por quê?
Porque se ninguém lhe dá atenção o ego sente fome. Ele vive de atenção.
Assim, mesmo se alguém estiver brigando e com raiva de você, mesmo isso é
bom, pois pelo menos você está recebendo atenção. Se alguém o ama,
isso está bem. Se alguém não o está amando, então até mesmo a raiva
servirá. Pelo menos a atenção chega até você. Mas se ninguém estiver
lhe dando qualquer atenção, se ninguém pensa que você é alguém
importante, digno de nota, então como você vai alimentar o seu ego?